terça-feira, 1 de abril de 2008

Estou sozinho? Ou isto é a depressão dos 40?

A propósito de uma ideia que, modestamente, desenvolvi para a Unidade Curricular de Relações Interpessoais, e aceitando que o desenvolvimento tem como objectivo uma organização progressiva dos vários factores (motor, cognitivo, afectivo,..) no sentido de uma adaptação mais eficaz ao meio natural e social, desenvolver-se significará adaptar-se melhor, integrando as conquistas anteriores nos processos adaptativos às novas situações.
Ora, como processo que decorre ao longo da vida, desde a concepção até à morte, o desenvolvimento é um processo complexo, no qual intervêm as várias componentes do ser humano, e global, dado que as modificações numa das componentes implicam modificações em todas as outras (envolve todos os sistemas e subsistemas do ser humano: anatómicos, bioquímicos, neurofisiológicos, motores, cognitivos, sociais e emocionais, de um modo integrado ou interligado). Assim, as modificações produzidas são estruturais e comportamentais, e por vezes, ao deparar-se ou relacionar-se com o outro, o indivíduo “é capaz de percebê-lo como algo ameaçador ou como fonte de satisfação, reagindo de acordo com essa percepção. O conceito de apresentação do self, central na teorização de Trower sobre o esquema interpessoal, refere-se às projecções ligadas ao desempenho social que actuam na formação da auto-imagem”[1], que deve contribuir para um relacionamento saudável entre pessoas e grupos sociais, através da interdependência (“frequentemente associada à filiação, instinto gregário, desejabilidade social, atracção interpessoal, etc.”[2], condição natural da vida social, valor orientador das interacções entre pessoas e grupos), da aceitação (“firme disposição de reconhecer o outro tal como ele é”[3] – sem que tal possa ser entendido como amoldamento – antes possibilidade de predisposição para a convivência através do respeito), da solidariedade (conceito tão caro aos ideais revolucionários franceses de 1789, uma “disposição permanente de ajuda (…), decorrência da junção entre interdependência e aceitação”[4] e da afiliação (“tendência humana básica para procurar a companhia de outras pessoas”[5]). O inverso de tudo isto leva à rejeição (relacionamento interpessoal não-saudável).
Acrescentaria aqui uma outra nota: penso que a "lógica de mundo" actual (sobretudo pós-moderna) convida mais à rejeição do que ao seu inverso. Estou sozinho? Ou isto é a "depressão dos 40"?
[1] Del Prette, Ob. Cit., p. 216.
[2] Del Prette, Ob. Cit., p. 217.
[3] Del Prette, Ob. Cit., p. 219.
[4] Del Prette, Ob. Cit., pp. 220-221.
[5] Neto, F. (2002). Psicologia Social. Lisboa: Univ Aberta

1 comentário:

Raquel Úria disse...

Talvez a resposta não possa ser só "sim" ou "não". A pergunta também é complexa, tal como o desenvolvimento. :)
E não é típica de todas as épocas a ideia de que "antes é que era bom!"?