sexta-feira, 27 de junho de 2008

3) A Investigação Colaborativa/Cooperativa


Embora a colaboração/cooperação seja frequentemente considerada como uma condição necessária ao desenvolvimento profissional, aquela, só por si, não o induz automaticamente, ou leva ao desaparecimento do isolamento e de outros aspectos característicos de uma profissão; assim, concordamos que a adopção de uma perspectiva colaborativa não é um processo rápido e pode até, num primeiro momento, provocar desânimo, pois os esforços não serão suficientemente reconhecidos, muitas vezes.
No que diz respeito ao universo educacional, nem todos os agentes (professores, Órgãos de administração, etc.) podem estar suficientemente preparados para actuar em colaboração, sendo então necessário proporcionar as condições e o tempo para trabalhar em equipa.
No entanto, “trabalhar em grupo” não significa necessariamente “trabalhar juntos”, mas a colaboração/cooperação devem significar:
a) compartilhar preocupações docentes com outros professores como colegas;
b) contrastar as tomadas de decisão adoptadas nas tarefas educacionais que sucedem as aulas;
c) ceder parte do poder que, de forma tradicional, está centrado na autoridade do coordenador de um determinado grupo de trabalho;
d) permitir que o próprio grupo, de forma consensual, defina os problemas e projectos, considerando os valores e perspectivas de todos os participantes.
O grupo colaborativo/cooperativo não deve anular as diferenças, as necessidades, os talentos, os comprometimentos e as competências individuais, mas, ao contrário, utilizar essa heterogeneidade para favorecer um processo mais rico dentro do grupo, enfrentando, é certo, numerosas resistências, negações e barreiras que nascem e se desenvolvem no decorrer do trabalho, o que permite a autonomia do professor, a qual, embora muitas vezes vista como um déficit (relacionada com incerteza e medo, atitude defensiva e um mau ponto de partida para o desenvolvimento profissional do professor), é considerada, no entanto, por Hargreaves (1993) de forma tripla e como condição de trabalho:
1. O Individualismo Forçado - pode ser descrito como uma situação que força os professores a trabalhar de maneira autónoma devido a limitações administrativas ou organizacionais. Os professores desejam colaborar, mas não têm tempo ou local para consultar um ao outro;
2. O Individualismo estratégico - ocorre quando os professores, devido à alta pressão colocada sobre eles – pressão externa tais como expectativas dos pais, o número excessivo de alunos nas salas de aula, etc – escolhem conscientemente retirar-se na sua própria sala de aula.
3. O Individualismo Electivo - não tanto baseado em preocupações pragmáticas, mas baseado nas razões intrínsecas que os professores escolhem activamente para trabalhar sozinhos, numa tarefa específica por um período limitado de tempo, o que leva à criatividade, estudo pessoal, reflexão, e elaboração de novas orientações para o desenvolvimento profissional.
Assim, embora normalmente se pense que o trabalho colectivo é sempre favorável para o desenvolvimento profissional dos professores e que a autonomia é obstrutiva, concordamos que Autonomia e Colaboração se complementam, sobretudo quanto à pesquisa - o conceito de professor como investigador da sua própria prática tem sua origem nos trabalhos de Stenhouse (1975), baseado na necessidade de que os professores construam o seu próprio projecto educacional, investigando a sua prática pedagógica. Assim, deve desenvolver-se no docente uma disposição para examinar de forma mais crítica a sua actividade, com a intenção de mudá-la, se for o caso. Da mesma maneira, para Imbernón (1994), a formação do professor pesquisador deve desenvolver-se ligada a um modelo indagador que favoreça a autonomia e o desenvolvimento profissional.
Embora constatemos, dia a dia, que os professores dispõem de cada vez menos tempo para realizar pesquisas, na medida em que tarefas meramente administrativas têm sido sobrevalorizadas pelos sucessivos poderes políticos em relação à preparação científico-pedagógica e consequente leccionação, também é verdade que os professores não possuem uma formação adequada para desenvolver pesquisa, pois a pesquisa ainda é vista como um “assunto para pesquisadores profissionais”.
No entanto, não pode haver prática pedagógica sem reflexão, e na medida em que a prática reflexiva e a pesquisa envolvem conjuntos similares de habilidades, defendemos que um dos melhores caminhos para desenvolver habilidades de reflexão é desenvolver habilidades de pesquisa.

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