sexta-feira, 27 de junho de 2008

2) A Investigação Participativa


Hall e Kassam (citados por Américo Nunes Peres e Orlando Pereira Freitas, “Proposta de uma nova cidadania para o desenvolvimento social desde o local e o comunitário, UTAD – Pólo de Chaves, s.d.) descrevem a Investigação Participativa como uma actividade que integra e combina a investigação social, o trabalho educativo e a Acção, começando por assinalar que o foco de atenção da Investigação Participativa se situa no trabalho de emancipação de grupos oprimidos ou explorados: os imigrantes, os indígenas, as mulheres, etc.
A Investigação Participativa pode definir-se como um tipo de investigação social crítica, uma vez que integra o conhecimento académico, mas também os valores morais e o conhecimento popular, procurando criar espaços e momentos privilegiados de reflexão e auto-análise, através dos quais os respectivos intervenientes procedam à identificação e ao questionamento dos problemas relativos à realidade em que estão inseridos, que tem sede num contexto que se alimenta das aspirações e das movimentações que os próprios sujeitos participativos desenvolvem, enquanto seres que confiam em si mesmos e se auto-determinam.
Actualmente, a Investigação Participativa é uma estratégia susceptível de contribuir para um conhecimento mais profundo dos problemas das comunidades, bem como para capacitá-las para a sua resolução.
Historicamente ao serviço das classes mais populares e socialmente mais desfavorecidas, a sua utilização como metodologia de análise e intervenção, desde a elaboração da acção-reflexão de Feire (1973, 1988) e da sua teoria da educação e da acção cultural, tem vindo a adaptar-se a outros contextos, na premissa de converter a comunidade no principal agente de mudança/transformação da sua realidade. Para Quintana (1986), este objectivo alcança-se consciencializando a comunidade das suas necessidades e dos factores que as condicionam, dotando-a de capacidades para tomar as decisões adequadas para solucionar os seus problemas e buscando o compromisso da comunidade na acção transformadora da sua realidade.
Esta prática tem como objectivos principais permitir às pessoas um processo de construção ou de consciencialização, o uso da sua experiência, a produção de conhecimento e a sua acção útil para a sociedade. Por outras palavras, tomar consciência, possuir o conhecimento e fazer bom uso dele. A consciência cria algo importante nos homens e nas mulheres: os motivos para a mudança e o desejo de a alcançar.
Atendendo à multiplicidade de perspectivas, processos e etapas, assim como às muito díspares finalidades da acção que assumimos de Participação e sobre Investigação, julgamos que a metodologia a ser seguida deve contemplar quatro fases:
- o Diagnóstico Participativo (que pode ser iniciado por um grupo ou estendido a um sector mais amplo) é operado segundo certas normas estabelecidas de convivência. Nesta fase, devem ser utilizadas as diferentes e adequadas técnicas para a recolha de dados e identificação do(s) problema(s) reais e comuns e das variáveis afectas;
- a Programação e Execução, nas quais são definidas as metas e finalidades e os meios
utilizados para as alcançar. É proposta e executada uma estratégia de acção. Identificados os meios existentes, definem-se e priorizam-se objectivos (qualitativos e/ou quantitativos) alcançáveis e são propostas medidas para reduzir os factores que originam e mantêm o(s) problema(s) e sensibilizar e/ou iniciar a participação da comunidade (de notar que, dada a sua intensidade dinâmica, este processo deve ser bem coordenado);
- a Avaliação, como processo contínuo, desde as primeiras sessões até aos resultados Finais, segue-se para ajuizar os resultados do programa em relação aos objectivos propostos e, se necessário, reformular as hipóteses que foram surgindo no processo reprogramação);
- a Divulgação.
Pelo que considerámos, nesta metodologia participativa, a investigação é considerada como um processo de participação social, no qual é fundamental considerar um equilíbrio mutuamente possível, de autonomia, cooperação e hierarquia com e entre as pessoas, sendo a tomada de decisão partilhada entre todos os parceiros do processo de investigação. É também, um processo de investigação densamente trespassado de significados e valores, em todas as etapas do seu percurso, o que se apresenta como um desafio complexo, na medida em que os significados e os valores que estão aí presentes, poderão ter interpretações diversas (consoante a idade, sexo, ocupação, denominação, etc) dos intervenientes no processo.
A investigação participativa, enquadrada no paradigma participativo de investigação (cf. Denzin e Lincoln, 2000), propõe aos investigadores considerar o processo de investigação como uma realidade participada e partilhada. Num paradigma participativo de investigação, defende-se uma relação participada entre investigador e investigado (Heron, 1996)2, onde o investigado é também um investigador, estabelecendo-se entre os dois uma relação interactiva e aberta à mudança. Metodologicamente, a investigação é considerada como um espaço intersubjectivo, para onde confluem múltiplas formas práticas, conceptuais, imaginárias e empáticas de conhecimento.
No entanto, um princípio a ter em conta na investigação participativa é que nenhum método de investigação é intrinsecamente participativo (Boyden e Ennew, 1997), sendo a natureza da investigação não uma questão de técnicas de recolha ou tratamento de informação, mas algo que se centra na orientação estratégica da pesquisa, isto é, algo que se relaciona com as concepções epistemológicas e políticas e éticas, com implicações técnicas.

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