segunda-feira, 30 de junho de 2008

A questão da validade


A questão da validade (fidedignidade) da investigação está intimamente ligada com a sua credibilidade, a qual pode ser aferida a partir do ponto de vista da fidelidade interna e externa.
A primeira (fidedignidade interna) relaciona-se com a concordância entre os observadores em relação à descrição dos eventos ou fenómenos. De acordo com Goetz e LeCompte (1994), os investigadores qualitativos utilizam as seguintes estratégias para reduzir as ameaças à validade interna: as descrições com baixa inferência (recolha de dados, que pode envolver a descrição das percepções do sujeito num cenário específico ou a representação das suas conversas), o exame de pares (que pressupõe a colaboração de outros investigadores, através da revisão do documento por especialistas naquela matéria), e os dados registados mecanicamente (gravações sonoras, de vídeo, fotografias, etc, que podem ser considerados, examinados e valorizados ou não por outros peritos.
Já a segunda (fidelidade externa) relaciona-se fundamentalmente com a possibilidade de diferentes investigadores obterem resultados diversos com os mesmos dados acerca do mesmo evento ou fenómeno; ainda de acordo com Goetz e LeCompte (1994), tal deve-se fundamentalmente devido: 1) ao papel do investigador; 2) à escolha dos sujeitos; 3) às situações e condições sociais; 4) à definição e categorização dos dados; e 5) aos métodos de recolha e análise de dados.
1. A fidedignidade interna
Ainda que muitos dos especialistas em pesquisa qualitativa defendam que a evidência da fidedignidade é desnecessária se a validade interna puder ser demonstrada (ou seja, é impossível ter validade interna sem fidedignidade), Merriam (1988), citado por Coutinho (2005) diz que a validade interna está relacionada com a questão de como as descobertas se compatibilizam com a realidade (multidimensional e em constante mudança).
Se bem que nos estudos qualitativos a questão da validade interna não seja tão premente quanto nos quantitativos, é claro que o pesquisador (neste caso usando métodos sobretudo qualitativos) procura estabelecer relações ou explicar os eventos ou fenómenos, logo a validade interna “faz sentido em termos de credibilidade” (Vieira, 1999, citado por Coutinho 2005), tanto mais que os efeitos do observador têm de ter em consideração os contextos específicos, sendo então que, por exemplo a descrição, a honestidade e as relações pessoais construtivas ao longo do tempo irão melhorar a validade interna, ainda que, como avisou Lock (1989), tenhamos de ser cautelosos com os sujeitos que ocasionalmente omitem factos ou não falam a verdade, ou mesmo com o facto de várias pessoas dizerem o mesmo não significar necessariamente que tal seja verdadeiro - a repetição de uma ideia não significa validade (Merriam, 1998) – sendo então necessário que o investigador detecte os dados falsos.
2. A fidedignidade externa
Para Ghiglione & Matalon (1997), citados por Coutinho (2005), a validade externa está fundamentalmente ligada: 1) à constituição das amostras; 2) à sua representatividade, o que nos leva à questão da possibilidade da sua generalização, uma vez que o pequeno número de sujeitos e a falta de amostragem aleatória deveriam inviabilizá-la, o que nem sempre acontece, levando a conclusões precipitadas ou mesmo erróneas.
Ora, segundo Coutinho (2005), há duas formas de generalizar os resultados de um estudo qualitativo: a conceptualização (o investigador está interessado em chegar a novos conceitos que expliquem qualquer aspecto específico) e o desenvolvimento de “hipóteses de trabalho” (o pesquisador consegue avançar uma ou mais hipóteses novas que relacionem conceitos ou factores), mas Peshkin (1993) considera que a validade externa neste tipo de pesquisa pode ser feita pelo “usuário”, ou seja, não é o autor do trabalho que faz a generalização, mas sim o seu leitor (“a generalização feita pelo usuário não é de nenhuma maneira uma medida inferior de validade externa”, Lock, 1989). Já Guba e Lincoln (1994) e Mertens (1992), citados por Coutinho (2000) preferem usar a expressão “transferibilidade” para referir o conceito de generalização ou validade externa dos estudos quantitativos.
Assim, parece-me, humildemente, que, ainda que a presença do investigador deva ser garante de rigor (logo fidedignidade, logo credibilidade e portanto validade), a natureza da interacção entre o pesquisador e os participantes, a respectiva triangulação dos dados e a interpretação das percepções devem estar ancoradas em métodos de investigação (sobretudo qualitativos, predominantemente quantitativos ou mistos) que se baseiem em paradigmas de investigação claramente assumidos.

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