quarta-feira, 30 de abril de 2008

Diferenças entre a entrevista estruturada (pesquisa quantitativa) e a entrevista segundo a pesquisa qualitativa


Entrevistar qualitativamente é geralmente muito diferente do que entrevistar quantitativamente:

• A abordagem tende a ser muito menos estruturada na pesquisa qualitativa. Na pesquisa quantitativa, a abordagem é estruturada para maximizar a fiabilidade e a validade da medição de conceitos-chave; é ainda mais estruturada, porque o investigador tem claramente especificado um conjunto de questões que está a ser investigado assim - a entrevista é estruturada e concebida para responder a perguntas específicas. Por outro lado, na pesquisa qualitativa há a ênfase na formulação: de generalidades; de ideias iniciais de investigação; e nas próprias perspectivas dos entrevistados.
• Nas entrevistas qualitativas, há um muito maior interesse no ponto de vista do entrevistado; em pesquisa quantitativa, a entrevista reflecte as preocupações do pesquisador.
• Nas entrevistas qualitativas, algumas "caminhadas ao largo" são muitas vezes incentivadas, uma vez que dá uma ideia do que o entrevistado vê como relevante e importante; na pesquisa quantitativa, isto é normalmente considerado um incómodo desencorajador.
• Nas entrevistas qualitativas, o entrevistador pode afastar-se significativamente a partir de qualquer guião que está a ser usado; podem colocar-se novas questões, variar a ordem das perguntas e até mesmo a sua formulação.
Na pesquisa quantitativa, nenhum destes procedimentos é aceite, porque comprometem necessariamente a padronização do processo de entrevista e, por conseguinte, a fiabilidade e a validade da medida.
• Como resultado, entrevistar qualitativamente tende a ser flexível, correspondendo à posição que o entrevistado assume face à entrevista, e talvez adapte a ênfase na investigação como resultado significativo de questões que surgem no decurso da entrevista. Em contrapartida, as entrevistas estruturadas são normalmente inflexíveis, devido à necessidade de padronizar a forma como cada entrevistado é tratado.
• Nas entrevistas qualitativas, o investigador deseja respostas ricas e detalhadas; na pesquisa quantitativa, a entrevista supostamente gera respostas que podem ser codificados e processadas rapidamente.
• Nas entrevistas qualitativas, o entrevistado pode sê-lo em mais de uma e, por vezes, até várias vezes. Na pesquisa quantitativa, a menos que a investigação seja de carácter longitudinal, a pessoa será entrevistada uma única vez.

adaptado de "Interviewing in qualitative research", nº 15

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A Ética na Investigação

I. Padrões Orientadores: Responsabilidades para o Campo

Uma vez que a ética, entendida como o que deve ser, o que é preferível, em ordem à satisfação de necessidades – neste caso durante o processo de Investigação Educacional - é cada vez mais entendida como fundamental, adaptei um conjunto de ideias que convosco partilho.


A. Preâmbulo


Em ordem à manutenção da integridade na Investigação, os investigadores educacionais devem garantir as suas conclusões sobre a Pesquisa efectuada, de forma adequada face aos padrões inerentes às suas perspectivas teóricas e metodológicas.
Devem igualmente manter-se bem informados acerca dos seus e de outros paradigmas relevantes para uma sua pesquisa, continuamente avaliando os critérios de adequação dos julgamentos da sua pesquisa.

B. Normas

1. Os Investigadores Educacionais devem conduzir a sua vida profissional de forma a não pôr em risco pesquisas futuras, uma pública firmeza do Campo e a disciplina dos resultados da própria Pesquisa.
2. Os Investigadores Educacionais não devem fabricar, falsificar ou dissimular a autoria, evidências de dados, pesquisas ou conclusões.
3. Os Investigadores Educacionais não devem, consciente ou negligentemente, utilizar o seu Estatuto profissional para fins fraudulentos.
4. Os Investigadores Educacionais devem honesta e transparentemente revelar, quer as suas qualificações quer as suas limitações, quando chamados a dar opiniões profissionais ao público em geral, a agências governamentais, e a outros, de modo a que possam avaliar os conhecimentos por si facultados.
5. Os Investigadores Educacionais devem dar conhecimento das suas conclusões a todos os actores relevantes, e devem abster-se de manter secretas ou comunicar selectivamente os resultados da sua investigação.
6. Os Investigadores Educacionais deverão apresentar um relatório de investigação, concepções, procedimentos, resultados, e analisá-los com precisão e em pormenor suficiente, para permitir a especialistas e pesquisadores treinados compreendê-los e interpretá-los.
7. Os relatórios dos Investigadores Educacionais revelados ao público em geral devem ser escritos de forma simples, para comunicar o seu significado prático, incluindo os limites na eficácia e da generalização a situações, problemas, e contextos. Por escrito ou para comunicar com não-investigadores educativos, devem ter o cuidado de não deturpar a prática ou as implicações políticas da sua investigação ou a pesquisa de outros.
8. Quando os Investigadores Educacionais participarem em acções relacionadas com a contratação, retenção e progressão, não devem discriminar com base no género, orientação sexual, deficiência física, estado civil, cor, classe social, religião, etnia, origem nacional, ou outros atributos não relevantes para a avaliação dos centros académicos ou de competência na investigação.
9. Os Investigadores Educacionais têm a responsabilidade de ser sinceros e de recomendar pessoas qualificadas.
10. Os Investigadores Educacionais devem recusar os pedidos de revisão dos trabalhos de
outros, onde houver a possibilidade de conflitos de interesses, ou quando tais pedidos não possam ser satisfeitos em devido tempo. Os materiais enviados para revisão devem ser lidos na íntegra e considerados cuidadosamente, com comentários justificados.
11. Os Investigadores Educacionais devem evitar todas as formas de assédio, e não devem utilizar as suas posições profissionais ou pessoais ou classificar para coagir favores sexuais, vantagens económicas ou profissionais em relação a estudantes, assistentes de investigação, empregados, colaboradores, ou quaisquer outros.
12. Os Investigadores Educacionais não devem ser penalizados pela apresentação de relatórios de violações de normas profissionais por outros.
(adaptado de http://www.aera.net/AboutAERA/Default.aspx?menu_id=90&id=222)

domingo, 6 de abril de 2008

Como realizar um trabalho de investigação

Os 5 Grandes Objectivos da Investigação Educacional

  1. Exploração. Quando se está a criar ideias acerca de algo.
  2. Descrição. Quando se pretende descrever as características de algum fenómeno.
  3. Explanação. Quando se pretende mostrar como e quando acontece um fenómeno daquele modo. Se se está interessado em causalidade, está-se geralmente interessado em explanação.
  4. Predição. Este é o objectivo quando o interesse é fazer predições exactas - é de notar que as Ciências Avançadas produzem muito mais predições exactas do que as novas Ciências Sociais e Comportamentais.
  5. Influência. Este objectivo é um pouco diferente – envolve a aplicação dos resultados da investigação na mudança do mundo.

sábado, 5 de abril de 2008

Conhecimento, Ciência e Investigação Qualitativa e Quantitativa


O objectivo de qualquer ciência é adquirir conhecimentos, sendo portanto fundamental a escolha do método adequado que nos permita conhecer a realidade fundamental . Como o problema surge quando pretendemos aferir a validade de determinados conhecimentos, surge a questão do método a utilizar, sendo que, geralmente, podemos considerar a possibilidade de utilização de métodos indutivos ou dedutivos, obviamente com objectivos diferentes: os métodos indutivos estão geralmente associados à investigação qualitativa, enquanto os métodos dedutivos à investigação quantitativa.
Nas ciências sociais, a utilização de abordagens qualitativas enfrenta problemas epistemológicos e metodológicos (poder e ética na geração, utilização e validade de bases de dados), mas, uma vez que se evita a quantificação, procura-se sobretudo o estudo da associação/relação de factos em contextos estruturais e situacionais, através de registos narrativos dos fenómenos que são estudados mediante técnicas como a observação participante e as entrevistas não estruturadas
A investigação quantitativa tenta determinar a possibilidade de associação ou correlação entre variáveis, a generalização e objectivação dos resultados através de uma amostra para que se possa fazer uma inferência a um universo do qual toda a amostra procede, explicando porque é que as coisas acontecem ou não de uma forma determinada.

A seguir, as características principais da Investigação Qualitativa e da Investigação Quantitativa:

Investigação qualitativa

Centrada na fenomenologia e compreensão
Observação naturista sem controlo
Subjectiva
Inferências das suas bases de dados
Exploratória, indutiva e descritiva
Orientada para o processo
Confirmatória, inferencial, dedutiva
Dados "ricos e profundos"
Não generalizável
Holista
Realidade dinâmica

Investigação quantitativa

Baseada na indução probabilística do positivismo lógico
Mediação penetrante e controlada
Objectiva
Inferências para além dos dados
Orientada para o resultado
Dados "sólidos e repetíveis”
Generalizável
Particularista
Realidade estática

terça-feira, 1 de abril de 2008

Estou sozinho? Ou isto é a depressão dos 40?

A propósito de uma ideia que, modestamente, desenvolvi para a Unidade Curricular de Relações Interpessoais, e aceitando que o desenvolvimento tem como objectivo uma organização progressiva dos vários factores (motor, cognitivo, afectivo,..) no sentido de uma adaptação mais eficaz ao meio natural e social, desenvolver-se significará adaptar-se melhor, integrando as conquistas anteriores nos processos adaptativos às novas situações.
Ora, como processo que decorre ao longo da vida, desde a concepção até à morte, o desenvolvimento é um processo complexo, no qual intervêm as várias componentes do ser humano, e global, dado que as modificações numa das componentes implicam modificações em todas as outras (envolve todos os sistemas e subsistemas do ser humano: anatómicos, bioquímicos, neurofisiológicos, motores, cognitivos, sociais e emocionais, de um modo integrado ou interligado). Assim, as modificações produzidas são estruturais e comportamentais, e por vezes, ao deparar-se ou relacionar-se com o outro, o indivíduo “é capaz de percebê-lo como algo ameaçador ou como fonte de satisfação, reagindo de acordo com essa percepção. O conceito de apresentação do self, central na teorização de Trower sobre o esquema interpessoal, refere-se às projecções ligadas ao desempenho social que actuam na formação da auto-imagem”[1], que deve contribuir para um relacionamento saudável entre pessoas e grupos sociais, através da interdependência (“frequentemente associada à filiação, instinto gregário, desejabilidade social, atracção interpessoal, etc.”[2], condição natural da vida social, valor orientador das interacções entre pessoas e grupos), da aceitação (“firme disposição de reconhecer o outro tal como ele é”[3] – sem que tal possa ser entendido como amoldamento – antes possibilidade de predisposição para a convivência através do respeito), da solidariedade (conceito tão caro aos ideais revolucionários franceses de 1789, uma “disposição permanente de ajuda (…), decorrência da junção entre interdependência e aceitação”[4] e da afiliação (“tendência humana básica para procurar a companhia de outras pessoas”[5]). O inverso de tudo isto leva à rejeição (relacionamento interpessoal não-saudável).
Acrescentaria aqui uma outra nota: penso que a "lógica de mundo" actual (sobretudo pós-moderna) convida mais à rejeição do que ao seu inverso. Estou sozinho? Ou isto é a "depressão dos 40"?
[1] Del Prette, Ob. Cit., p. 216.
[2] Del Prette, Ob. Cit., p. 217.
[3] Del Prette, Ob. Cit., p. 219.
[4] Del Prette, Ob. Cit., pp. 220-221.
[5] Neto, F. (2002). Psicologia Social. Lisboa: Univ Aberta